Saúde e Ciência

Dengue e chikungunya: estudo revela anos de vida perdidos e desigualdades no Brasil

Um estudo inédito revela que dengue e chikungunya, consideradas infecções de baixa letalidade, causam significativa perda de anos de vida, especialmente entre grupos vulneráveis no Brasil. A pesquisa, realizada por instituições renomadas, destaca desigualdades regionais e étnicas, com mortes mais precoces em populações do Norte e Nordeste. A necessidade de melhorar a vacinação e o acesso ao tratamento é urgente, pois a média de anos de vida perdidos chega a 22 anos.

Atualizado em
July 30, 2025
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Dengue e chikungunya: regiões com maior população de pessoas negras e indígenas são as mais afetadas (Sandro Araújo/Agência Saúde DF//)

Dengue e chikungunya são frequentemente consideradas infecções autolimitadas e de baixa letalidade. No entanto, um estudo recente, o maior realizado no Brasil sobre essas arboviroses, revela que o impacto dessas doenças é muito mais significativo do que se pensava, especialmente entre grupos vulneráveis como crianças, idosos, pessoas negras e indígenas. Publicado na revista científica The Lancet, o levantamento foi conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e London School of Hygiene & Tropical Medicine, analisando mais de 14 milhões de casos entre 2015 e 2024.

O estudo mostra que as mortes decorrentes dessas infecções resultaram em uma perda média de até 22 anos de vida em relação à expectativa média. Entre os casos de chikungunya, foram hospitalizados 21.336 pacientes, com 1.044 mortes registradas, sendo 728 atribuídas diretamente à infecção. Já a dengue causou 12.969 óbitos entre 455.899 internações, com 77% das mortes relacionadas à doença. O indicador de anos de vida perdidos (YLL) revela que cada morte por chikungunya resultou em 16 anos de vida perdidos, enquanto a média para dengue foi de 14,5 anos.

As desigualdades regionais e étnicas são alarmantes. O pesquisador da Fiocruz-Bahia, Thiago Cerqueira Silva, destaca que a idade da morte e os anos de vida perdidos variam drasticamente conforme a cor da pele e a localização geográfica. Embora o Sudeste tenha o maior número de casos de dengue, as populações do Norte e Nordeste apresentam taxas de mortalidade mais jovens. O risco de morte precoce em regiões com maior presença de pessoas negras, pardas e indígenas é significativamente maior, com um aumento de 52% para chikungunya e 62% para dengue.

Os grupos mais vulneráveis incluem crianças menores de um ano, idosos a partir dos 70 anos, homens e pessoas com doenças crônicas. O risco de morte por dengue aumenta com a idade, especialmente após os 40 anos. Na chikungunya, as crianças com menos de dez anos são as que mais perdem anos de vida. O tempo entre o início dos sintomas e o óbito também é preocupante, com 90% das mortes por chikungunya ocorrendo até o 49º dia e o pico da dengue em torno do 35º dia.

Apesar de já existirem vacinas licenciadas para ambas as doenças, a cobertura vacinal é limitada e não abrange toda a população vulnerável. Além disso, a falta de antivirais específicos para o tratamento e as dificuldades no diagnóstico, devido à semelhança dos sintomas, dificultam a resposta do sistema de saúde. Cerqueira Silva ressalta que a média de idade das vítimas de dengue no Nordeste é de 44 anos, enquanto no Sudeste é de 63 anos, indicando que o acesso ao tratamento pode ser desigual.

Para enfrentar o impacto dessas doenças, é essencial priorizar a vacinação e a prevenção em grupos vulneráveis, além de melhorar a formação dos profissionais de saúde e garantir acesso a serviços nas regiões mais afetadas. A luta contra a dengue e a chikungunya vai além do combate ao mosquito; é necessário abordar as condições que tornam algumas vidas mais curtas que outras. Nessa situação, nossa união pode ajudar os menos favorecidos a terem acesso a cuidados e prevenção adequados.

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