Impacto Social

Kyem Ferreiro transforma sua trajetória de vida em ativismo e luta pela visibilidade transmasculina no Brasil

Kyem Ferreiro, ativista trans negro, superou desafios na infância e se destacou em São Paulo, coordenando o IBRAT e co-idealizando a Marcha Transmasculina, que mobilizou milhares em prol dos direitos trans.

Atualizado em
July 19, 2025
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Kyem Ferreiro Imagem: Divulgação

Nascido na zona rural do Mato Grosso, Kyem Ferreiro, um homem trans negro, enfrentou desde a infância questões de gênero e identidade. Sem apoio familiar ou escolar, ele se sentia diferente ao não se identificar com as "brincadeiras de menina". A situação se agravou aos doze anos, quando as mudanças em seu corpo se tornaram evidentes. Sua avó, que costurava roupas largas, ajudou a mascarar sua aparência, mas a realidade se impôs na escola, onde sua habilidade em esportes gerou desconforto entre colegas.

Aos dezoito anos, Kyem teve acesso à internet pela primeira vez e, após dois anos de busca, encontrou um fórum sobre pessoas transmasculinas. Essa descoberta foi um divisor de águas. Ele se mudou para São Paulo, inicialmente com o objetivo de estudar biogás na Universidade de São Paulo (USP), mas sua verdadeira intenção era se conectar com a comunidade trans, iniciar a hormonização e transicionar. Aos vinte e um anos, começou terapia e, ao se sentir mais seguro, iniciou o tratamento hormonal sem informar seus pais.

Durante uma visita à sua cidade natal, sua aparência mais masculina chamou a atenção da família. A reação de seu pai foi de raiva, levando a uma briga em que Kyem se assumiu. O pai, inicialmente confuso, mais tarde se educou sobre a identidade de gênero e pediu desculpas. A relação entre eles se transformou após ele entender que a identidade de Kyem não era uma escolha, mas parte de quem ele realmente era.

Kyem passou por uma cirurgia de retirada de mamas, que ocorreu rapidamente, em apenas trinta dias. Sem recursos para os cuidados pós-operatórios, ele pediu ajuda em um grupo online e recebeu apoio financeiro de Jonas Maria, um ativista trans. Ao acordar da cirurgia, sentiu um alívio profundo, marcando o início de sua nova vida. Com o tempo, ele se juntou ao coletivo de corrida 'Trans no Corre', onde encontrou um espaço de acolhimento e apoio, ajudando a construir uma rede que hoje conta com mais de trezentas pessoas.

Sentindo-se isolado por ser um homem trans negro em um ambiente predominantemente branco, Kyem se inspirou em textos sobre a experiência de homens trans negros. Em dois mil e quinze, participou do primeiro Encontro Nacional de Homens Trans, organizado pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), onde atualmente é coordenador da unidade em São Paulo. Ele também co-idealizou a Marcha Transmasculina, que se tornou um marco na luta pelos direitos da população transmasculina, reunindo milhares de pessoas em suas edições.

Kyem Ferreiro expressa um forte compromisso com a luta por liberdade e igualdade, afirmando que herda um sonho ancestral de resistência. Sua trajetória é um exemplo de como a união e o apoio mútuo podem transformar vidas. Projetos que promovem a inclusão e o apoio a pessoas trans devem ser incentivados pela sociedade civil, pois a solidariedade pode fazer a diferença na vida de muitos que enfrentam desafios semelhantes.

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