Meio Ambiente

Brasil busca alternativas sustentáveis para reduzir dependência de fertilizantes químicos importados

O agronegócio brasileiro enfrenta desafios devido à dependência de fertilizantes russos, enquanto alternativas como bioinsumos e pó de rocha ganham destaque. O governo visa reduzir a importação em 50% até 2050.

Atualizado em
August 13, 2025
Clock Icon
5
min
Pó de rocha reservado para uma plantação de soja na cidade de Mineiros, sudoeste de Goiás - Divulgação

O agronegócio brasileiro, que depende fortemente de fertilizantes químicos importados, especialmente da Rússia, pode ser forçado a adotar alternativas locais. O uso de bioinsumos e pó de rocha, embora promissor, ainda é limitado na produção agrícola do país. Em 14 de julho de 2025, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos aplicariam penalidades a compradores de bens russos, incluindo fertilizantes, caso não houvesse um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Recentemente, Trump também impôs uma taxa adicional de 25% sobre as importações da Índia, elevando a tarifa total para 50%.

Atualmente, o Brasil importa cerca de setenta e seis por cento do nitrogênio, cinquenta e cinco por cento do fósforo e noventa e quatro por cento do potássio utilizados na agricultura. A Rússia é a principal fornecedora de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) para o Brasil. Reginaldo Minaré, da Associação Brasileira de Bioinsumos (Abbins), destaca que a dependência em fertilizantes é um problema histórico e que existem alternativas viáveis. Clenio Pillon, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ressalta que os custos dos fertilizantes agora representam de quinze a trinta por cento do custo de produção, além da crescente pressão por práticas agrícolas sustentáveis.

O governo federal já identificou alternativas e lançou o Plano Nacional de Fertilizantes, que visa reduzir em cinquenta por cento a importação de fertilizantes até 2050. O plano, embora conservador, reflete a realidade de baixa capacidade de investimento e a necessidade de convencer os agricultores a adotarem insumos menos químicos. A resistência do setor agrícola é atribuída à falta de incentivos fiscais e ao baixo engajamento das universidades na pesquisa de alternativas, segundo Rogério Vian, do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS).

Vian, que utiliza remineralizadores em suas plantações, afirma que o pó de rocha é rico em silício, essencial para a resistência das plantas. A lei que classifica o pó de rocha como fertilizante foi aprovada em 2013, mas a transição do uso de adubos químicos para pó de rocha leva, em média, três anos. Ele acredita que a crise atual pode ser uma oportunidade para o Brasil, já que a demanda por remineralizadores aumentou desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.

O Plano Nacional de Fertilizantes inclui bioinsumos e remineralizadores como alternativas viáveis, mas a produção em escala ainda requer investimentos. A logística é um desafio, pois o transporte de pó de rocha é economicamente viável apenas em um raio de trezentos quilômetros da origem. Apesar disso, um estudo do Serviço Geológico do Brasil indica que há disponibilidade de remineralizadores para a maioria das áreas agrícolas do país. Minaré destaca que a adoção de bioinsumos pode resultar em uma economia de até trinta por cento nos custos de fertilizantes químicos.

A Embrapa possui atualmente trezentos e trinta e um projetos relacionados a bioinsumos. O fortalecimento das boas práticas de manejo, como o plantio direto, é essencial para a transição para uma agricultura mais sustentável. O plano de negócios da Petrobras prevê um investimento de novecentos milhões de dólares no segmento de fertilizantes entre 2025 e 2029. Em situações como essa, a união da sociedade civil pode ser fundamental para apoiar iniciativas que promovam a agricultura sustentável e a redução da dependência de insumos químicos.

Folha de São Paulo
Quero ajudar

Leia mais

Ibama concede primeira licença prévia para projeto de energia eólica offshore no Brasil
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Ibama concede primeira licença prévia para projeto de energia eólica offshore no Brasil
News Card

O Ibama concedeu a primeira licença prévia para um projeto de energia eólica offshore em Areia Branca, RN, com capacidade de 24,5 MW, destacando a importância da regulação ambiental na transição energética do Brasil.

Motiva se une à TNFD e elabora plano para mitigar impactos ambientais em rodovias de seis estados
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Motiva se une à TNFD e elabora plano para mitigar impactos ambientais em rodovias de seis estados
News Card

A Motiva se junta à TNFD, focando na conservação ambiental e na redução de impactos de suas rodovias. A empresa finaliza um estudo para implementar ações de proteção da fauna e reflorestamento.

Cerrado é o primeiro bioma a receber o Landscape Accelerator – Brazil, impulsionando a agricultura regenerativa
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Cerrado é o primeiro bioma a receber o Landscape Accelerator – Brazil, impulsionando a agricultura regenerativa
News Card

O Cerrado é o primeiro bioma a receber o Landscape Accelerator – Brazil, que visa promover a agricultura regenerativa e reverter a degradação do solo, com potencial de gerar US$ 100 bilhões até 2050. A iniciativa, lançada em 2024, é uma parceria entre o WBCSD, Cebds e BCG, com apoio do Ministério da Agricultura. A implementação de práticas regenerativas em 32,3 milhões de hectares pode aumentar a produtividade em até 11% e reduzir emissões de carbono em 16%.

Picape realiza manobra ilegal sobre buggy em Canoa Quebrada e gera repercussão nas redes sociais
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Picape realiza manobra ilegal sobre buggy em Canoa Quebrada e gera repercussão nas redes sociais
News Card

Um vídeo de uma picape realizando manobra perigosa sobre um buggy em Canoa Quebrada gerou investigação por crime ambiental. A prefeita Roberta de Bismarck e autoridades locais reforçarão a fiscalização na área.

Quatro araras-canindé retornam ao Parque Nacional da Tijuca após 200 anos de extinção na região
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Quatro araras-canindé retornam ao Parque Nacional da Tijuca após 200 anos de extinção na região
News Card

Quatro araras-canindé foram reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, após 200 anos de extinção na região. O projeto, apoiado pelo ICMBio, visa a adaptação das aves antes da soltura completa em seis meses.

Projeto de Lei do Licenciamento é aprovado e gera preocupações sobre retrocesso ambiental no Brasil
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Projeto de Lei do Licenciamento é aprovado e gera preocupações sobre retrocesso ambiental no Brasil
News Card

O Congresso Nacional aprovou o PL 2.159/2021, conhecido como "PL da Devastação", que facilita o licenciamento ambiental e pode legalizar a degradação dos biomas brasileiros. A medida contrasta com a emergência climática e gera preocupações sobre a proteção ambiental. A ministra Marina Silva deve convencer o presidente Lula da Silva a vetar o projeto, que representa um retrocesso nas políticas ambientais do país.