Meio Ambiente

Falhas graves no mercado de carbono da Amazônia expõem irregularidades em projetos de conservação florestal

Uma investigação da Reuters revelou que 24 dos 36 projetos de carbono na Amazônia estão associados a beneficiários com infrações ambientais, incluindo um esquema de legalização de madeira ilegal. Os projetos, validados por Verra e Cercarbono, expõem falhas no controle de qualidade do mercado voluntário de carbono, com penalidades que superam R$ 125 milhões. O caso de Ricardo Stoppe Junior, preso por liderar um esquema de lavagem de madeira, destaca a gravidade da situação.

Atualizado em
July 11, 2025
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Projetos de carbono na Amazônia: 67% envolvem infratores ambientais multados. (Alex Ribeiro/Ag.Pará/Divulgação)

Uma investigação da Reuters revelou que 24 dos 36 projetos de carbono na Amazônia estão associados a beneficiários com infrações ambientais. As iniciativas analisadas, que visam a conservação florestal, foram aprovadas pelas certificadoras Verra e Cercarbono, responsáveis por validar e registrar projetos no mercado voluntário global de carbono. A Verra opera o Verified Carbon Standard (VCS), enquanto a Cercarbono atua na América Latina com metodologias adaptadas à região.

O levantamento expõe falhas significativas no processo de due diligence das empresas que movimentam bilhões de dólares no setor. Em pelo menos 20 casos, os responsáveis pelos projetos já tinham histórico de multas antes da certificação, e em sete situações, as infrações continuaram após o registro. Além disso, cinco projetos apresentaram violações dentro de áreas protegidas, incluindo desmatamento e transporte de madeira sem documentação.

O valor total das penalidades aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) aos envolvidos ultrapassa R$ 125 milhões, considerando infrações desde 2008. Muitas dessas empresas e indivíduos conseguiram acessar o mercado de carbono e manter atividades irregulares durante a comercialização dos créditos. O caso mais notório é de Ricardo Stoppe Junior, que comercializou cerca de US$ 15 milhões em créditos entre 2020 e 2024.

Stoppe foi preso em junho de 2024 durante a "Operação Greenwashing" da Polícia Federal, acusado de liderar um esquema de legalização de madeira extraída ilegalmente por meio de projetos de carbono. Ele acumula multas do IBAMA desde 2014, totalizando R$ 8,6 milhões. O relatório policial detalha como o grupo utilizava iniciativas de conservação para lavar madeira irregular, falsificando títulos de terra em unidades de conservação.

Após a divulgação da investigação, a Verra anunciou uma revisão formal de todos os projetos identificados e suspendeu preventivamente as iniciativas de Stoppe. A Cercarbono também iniciou uma investigação, mas afirmou que não há indícios de comprometimento da integridade dos projetos. Essas descobertas são especialmente relevantes para o Brasil, que em 2024 aprovou uma legislação criando um mercado regulado nacional de carbono, com controles mais rigorosos para projetos futuros.

O mercado voluntário global de carbono movimentou US$ 7,6 bilhões nos últimos cinco anos, com significativa participação de projetos amazônicos. Entre os compradores de créditos dos projetos problemáticos estão multinacionais como Boeing, Telefónica e Ecopetrol. Em meio a essa situação, é crucial que a sociedade civil se una para apoiar iniciativas que promovam a transparência e a integridade no mercado de carbono, garantindo que projetos de conservação sejam realmente eficazes e sustentáveis.

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