Meio Ambiente

Poeira do Saara atinge a Amazônia em eventos intensos e surpreendentes neste início de ano

Três eventos intensos de poeira do deserto do Saara foram registrados na Amazônia entre janeiro e março, com concentrações de até 20 μg/m³ de PM2.5, quatro a cinco vezes acima da média. O fenômeno, monitorado pelo Observatório da Torre Alta da Amazônia, destaca a interconexão climática global e a importância da poeira para a fertilidade do solo na região.

Atualizado em
July 14, 2025
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Vista do topo do Atto (Observatório da Torre Alta da Amazônia), em São Sebastião do Uatumã (AM), no coração da floresta - Bruno Kelly - 10.jan.15/Reuters

Recentemente, três eventos significativos de poeira do deserto do Saara foram registrados na Amazônia, com concentrações de até 20 microgramas por metro cúbico (μg/m³) de partículas finas (PM2.5). Esses episódios ocorreram entre janeiro e março de 2025, no Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto), localizado a cerca de 150 quilômetros ao norte de Manaus, no Amazonas. A presença de poeira na região é comum durante a estação chuvosa, mas as concentrações deste ano foram quatro a cinco vezes superiores à média habitual, que é de aproximadamente 4 μg/m³.

Os eventos ocorreram em três períodos distintos: de 13 a 18 de janeiro, de 31 de janeiro a 3 de fevereiro e de 26 de fevereiro a 3 de março. O transporte de poeira do Saara para a Amazônia é um fenômeno natural, que geralmente ocorre quando tempestades levantam partículas até a troposfera, onde são levadas por correntes de vento. A chegada dessas partículas à floresta amazônica é facilitada pela Zona de Convergência Intertropical, que se posiciona mais ao sul no início do ano.

Rafael Valiati, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), explica que, no primeiro semestre, a atmosfera amazônica é dominada por partículas de origem natural, com concentrações de poeira geralmente muito baixas. Ele classifica os episódios deste ano como "razoavelmente" intensos, mas não sem precedentes. As concentrações de poeira são tão baixas que não podem ser vistas a olho nu, ao contrário de fenômenos como a "chuva vermelha" na Europa, que ocorre devido à poeira do Saara.

O transporte da poeira pode levar entre sete e quatorze dias para percorrer os mais de cinco mil quilômetros que separam a África da América do Sul. A intensidade dos episódios varia conforme a quantidade de poeira levantada no Saara, a velocidade do vento e as condições de precipitação, que podem remover as partículas da atmosfera antes de chegarem à Amazônia.

As partículas de poeira detectadas no Atto são analisadas para entender melhor suas interações com a floresta e os efeitos sobre o clima local. Carlos Alberto Quesada, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), destaca que os minerais presentes na poeira, como potássio e fósforo, podem contribuir para a fertilidade do solo amazônico, que é geralmente pobre em nutrientes.

Esses eventos ressaltam a interconexão entre diferentes ecossistemas e a importância de monitorar as mudanças climáticas. A sociedade civil pode desempenhar um papel crucial em apoiar pesquisas e iniciativas que busquem entender e mitigar os impactos dessas interações. Projetos que promovam a preservação da Amazônia e a pesquisa sobre suas dinâmicas são essenciais para garantir a saúde desse bioma vital.

Folha de São Paulo
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