Socioambiental

Etnobotânico Pataxó Hãhãhãi resgata saberes ancestrais e catalogam 175 plantas medicinais em estudo inédito

Estudo inédito resgata saberes curativos do povo Pataxó Hã-Hã-Hãi, catalogando 175 plantas medicinais e destacando o uso de espécies exóticas, promovendo a etnobotânica participativa. A pesquisa, liderada por Hemerson Dantas dos Santos, busca revitalizar conhecimentos ancestrais e atender às necessidades de saúde da comunidade.

Atualizado em
July 11, 2025
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Pataxó Hãhãhãi durante coleta em trabalho de campo, em 2023 (foto: Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hãhãhãi)

Um estudo inovador realizado pelo etnobotânico Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hã-Hã-Hãi, atualmente doutorando no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF-Unifesp), resgatou saberes curativos ancestrais do povo Pataxó Hã-Hã-Hãi. Este trabalho, que é considerado o primeiro realizado por um pesquisador etnobotânico indígena, catalogou 175 plantas medicinais e teve como foco o tratamento de verminoses, diabetes e hipertensão, doenças que afetam a comunidade devido à fragmentação cultural e à deterioração das condições de vida.

O estudo, publicado no Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, foi realizado em colaboração com Eliana Rodrigues, orientadora de Hemerson. O pesquisador destacou que a pesquisa foi feita “por nós e para nós”, enfatizando a importância de resgatar conhecimentos que estavam se perdendo. Durante a investigação, foi constatado que 79% das plantas catalogadas estão em conformidade com a literatura científica atual, revelando um rico conhecimento tradicional.

Uma descoberta significativa foi que muitas das plantas medicinais mais utilizadas são espécies exóticas, introduzidas no Brasil, como o capim-cidreira e a moringa. Isso reflete a devastação ambiental e o deslocamento forçado da população indígena, que resultou na perda de muitas espécies nativas. Hemerson lamentou a escassez de plantas nativas e a extinção da língua tradicional do povo, que ocorreu em 1992, com a morte da última falante.

A pesquisa envolveu a participação de 19 especialistas indígenas, com idades entre cinquenta e oitenta e cinco anos, que compartilharam seus conhecimentos sobre práticas de cura. Hemerson destacou a importância dos anciãos na transmissão de saberes, mesmo em um contexto onde muitos adotaram práticas religiosas evangélicas, substituindo rituais tradicionais por orações cristãs.

O projeto também resultou em um livro, um audiovisual e a criação de um canteiro de plantas medicinais nas aldeias. Além disso, um livreto com receitas seguras para o uso de plantas medicinais será distribuído, visando educar jovens e profissionais da saúde indígena. A pesquisa foi apoiada pela FAPESP, que concedeu uma bolsa ao autor, permitindo que ele realizasse um trabalho de campo significativo em sua comunidade.

Iniciativas como essa são fundamentais para a preservação da cultura e dos saberes tradicionais. O resgate de práticas ancestrais e a valorização do conhecimento indígena podem ser impulsionados por ações coletivas da sociedade civil, que buscam apoiar e fortalecer comunidades em sua luta pela preservação de sua identidade e recursos naturais.

Agência FAPESP
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