Meio Ambiente

Mudanças climáticas ameaçam cultivo da erva-mate na América do Sul, aponta estudo da Unesp

Estudo da Unesp alerta que mudanças climáticas podem reduzir áreas adequadas para cultivo da erva-mate de 12,25% para apenas 2,2% até o final do século, impactando a produção e o custo.

Atualizado em
May 9, 2025
Clock Icon
4
min
mateCAPA

A erva-mate, um dos principais símbolos alimentares do Cone Sul, é cultivada principalmente no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O Brasil se destaca como o maior produtor mundial, com quase setecentas e cinquenta mil toneladas em 2023, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) alerta que as mudanças climáticas podem reduzir drasticamente as áreas adequadas para o cultivo da planta, passando de doze vírgula vinte e cinco por cento para apenas dois vírgula dois por cento até o final do século.

O estudo, liderado pelo especialista em agrometeorologia Glauco de Souza Rolim, envolveu pesquisadores de outras instituições e analisou o zoneamento climático da erva-mate (Ilex paraguariensis). Os resultados indicam que, no pior cenário climático previsto pelo último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a área cultivável nos quatro principais países produtores será drasticamente reduzida. Essa situação não afeta apenas a erva-mate, mas também outras culturas, como o café, que pode perder mais de cinquenta por cento de suas áreas adequadas até dois mil e oitenta.

O zoneamento climático é uma ferramenta importante na agricultura, ajudando a identificar regiões e períodos favoráveis para o plantio. Para a erva-mate, as condições climáticas ideais incluem temperaturas médias anuais entre quinze e vinte e dois graus Celsius e precipitação superior a mil e duzentos milímetros. A planta é sensível a geadas e altas temperaturas, que podem comprometer sua produtividade. O estudo utilizou dados climáticos e projeções do modelo CMIP6, que fornece estimativas para diferentes cenários de mudanças climáticas.

Atualmente, apenas doze vírgula dois por cento da área total dos quatro países é propícia para o cultivo da erva-mate, correspondendo a aproximadamente um milhão e quinhentos mil quilômetros quadrados. A região Sul do Brasil é a mais favorável, com noventa e seis vírgula sete por cento de sua área adequada. Contudo, as projeções indicam uma queda gradual, com a área apta reduzindo para oito vírgula oito por cento até dois mil e quarenta e, chegando a apenas dois vírgula dois por cento até o final do século.

Além da redução das áreas cultiváveis, a adaptação dos produtores às novas condições climáticas pode aumentar os custos de produção. Rolim sugere que os agricultores podem precisar investir em irrigação e aumentar a densidade do plantio, o que também demandaria mais recursos hídricos. Apesar de a erva-mate ser uma planta perene, capaz de resistir a condições adversas, as altas temperaturas podem impactar sua produção.

O estudo revela que, ao contrário do que se observa em outras culturas, as áreas favoráveis para a erva-mate não estão migrando para novas regiões, mas sim diminuindo. Diante desse cenário, é essencial que haja um investimento em pesquisas específicas para cada região e cultura, além de uma mobilização da sociedade para apoiar iniciativas que ajudem os produtores a se adaptarem. A união em torno de projetos que visem a preservação e adaptação da agricultura pode ser fundamental para garantir a continuidade do cultivo da erva-mate e a subsistência de muitas comunidades.

Jornal da UNESP
Quero ajudar

Leia mais

Indígenas são contidos com gás de pimenta após ocupação do gramado do Congresso Nacional em Brasília
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Indígenas são contidos com gás de pimenta após ocupação do gramado do Congresso Nacional em Brasília
News Card

Indígenas foram contidos com gás de pimenta após invadir o gramado do Congresso Nacional em Brasília, desrespeitando acordo de manifestação. A repressão gerou críticas de parlamentares.

Ministério da Integração reconhece emergência em Açailândia e Barra do Corda após desastres naturais
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Ministério da Integração reconhece emergência em Açailândia e Barra do Corda após desastres naturais
News Card

Ministério da Integração reconhece emergência em Açailândia e Barra do Corda, permitindo acesso a recursos para defesa civil. Maranhão acumula 33 reconhecimentos por desastres naturais.

Desmatamento ilegal no Mato Grosso ameaça onças-pintadas e a biodiversidade brasileira
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Desmatamento ilegal no Mato Grosso ameaça onças-pintadas e a biodiversidade brasileira
News Card

Desmatamento ilegal no Mato Grosso afeta onças pintadas e gera multas. Uma fazenda desmatrou mil hectares em área protegida, resultando em penalidades e comprometendo a biodiversidade local. A onça pintada, símbolo da fauna brasileira, perdeu 27 milhões de hectares de habitat, com a maioria das infrações ocorrendo sem autorização legal.

Anta brasileira é redescoberta na Caatinga após anos de expedições e esforços de conservação
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Anta brasileira é redescoberta na Caatinga após anos de expedições e esforços de conservação
News Card

Antas-brasileiras foram redescobertas na Caatinga, desafiando sua extinção local. A Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira busca estratégias de proteção para a espécie.

Temperaturas globais alcançam máximas históricas em março, evidenciando a crise climática em curso
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Temperaturas globais alcançam máximas históricas em março, evidenciando a crise climática em curso
News Card

Temperaturas globais atingem recordes históricos em março de 2023, com Europa enfrentando anomalias de 1,6 °C. Cientistas alertam para eventos climáticos extremos em decorrência do aquecimento.

Brasil se destaca na produção de trigo com pegada de carbono inferior à média mundial
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Brasil se destaca na produção de trigo com pegada de carbono inferior à média mundial
News Card

Estudo da Embrapa revela que o trigo brasileiro tem pegada de carbono inferior à média global, destacando práticas sustentáveis que reduzem impactos ambientais na produção agrícola. Essa conquista demonstra a capacidade do Brasil em aliar produtividade e responsabilidade ambiental.