Meio Ambiente

Ostras de São Paulo revelam presença de superbactérias e altos níveis de arsênio, alertando para riscos à saúde pública

Uma pesquisa revelou a presença de enterobactérias resistentes, como a Citrobacter telavivensis, em ostras de São Paulo, evidenciando a necessidade urgente de monitoramento ambiental e revisão das normas de controle de qualidade. As ostras, consideradas seguras para consumo, podem abrigar superbactérias, refletindo a poluição e a contaminação por metais pesados.

Atualizado em
August 6, 2025
Clock Icon
4
min
Uma imagem de dezenas de conchas de ostras acumuladas, a maioria aberta e vazia. As conchas apresentam tons acinzentados, marrons e perolados, e algumas ainda têm fragmentos de ostra. - Fonte: USP Imagens

Uma pesquisa recente revelou a presença de enterobactérias resistentes a antibióticos, incluindo a Citrobacter telavivensis, em ostras coletadas em mercados de São Paulo. Essa descoberta destaca a necessidade urgente de um monitoramento ambiental mais rigoroso e a revisão das normas de controle de qualidade de alimentos. A análise foi realizada em 108 amostras de ostras frescas, que mostraram não apenas a contaminação por essas bactérias, mas também a bioacumulação de arsênio, um metal pesado que pode ter origem na poluição ambiental.

Os pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Pesca identificaram a Citrobacter telavivensis pela primeira vez em alimentos no Brasil. Essa bactéria, que foi registrada inicialmente em um hospital de Israel em 2010, apresenta um perfil de resistência que a torna crítica, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo também relatou a produção da enzima CTX-M-15, associada à resistência bacteriana em frutos do mar.

As concentrações de arsênio nas ostras analisadas variaram de 0,44 a 1,95 mg/kg, superando o limite máximo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é de 1 mg/kg. Embora outros metais tenham sido identificados, suas concentrações não ultrapassaram os limites permitidos. A falta de rastreabilidade das amostras dificulta a identificação da origem da contaminação, o que é alarmante, pois a presença de superbactérias pode representar um risco significativo à saúde pública.

Felipe Vásquez Ponce, um dos autores do estudo, explica que a resistência a antibióticos e metais pesados está interligada. As bactérias que possuem plasmídeos (material genético extra) com essas resistências conseguem sobreviver em ambientes poluídos. A legislação brasileira atual foca apenas em coliformes fecais, sem considerar a presença de bactérias resistentes, o que é considerado insuficiente pelos pesquisadores.

O estudo também destaca que as ostras, por serem filtradoras, refletem a qualidade da água em que vivem, retendo microrganismos que podem ser provenientes de esgotos. Edison Barbieri, coautor da pesquisa, enfatiza a importância de um monitoramento ambiental mais abrangente, não apenas de metais pesados, mas também de bactérias resistentes. A falta de dados temporais sobre a contaminação dificulta a avaliação do risco à saúde humana.

Os resultados da pesquisa indicam que alimentos considerados seguros podem abrigar organismos patogênicos com potencial de causar doenças. A urgência de atualizar as normas de controle de qualidade é evidente, especialmente em um cenário global de resistência antimicrobiana. A união da sociedade civil pode ser fundamental para promover ações que visem a melhoria da segurança alimentar e a proteção da saúde pública.

Jornal da USP - Saúde
Quero ajudar

Leia mais

Bancos de desenvolvimento anunciam investimento de 3 bilhões de euros para combater poluição plástica nos oceanos
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Bancos de desenvolvimento anunciam investimento de 3 bilhões de euros para combater poluição plástica nos oceanos
News Card

Um grupo de bancos de desenvolvimento destinará pelo menos 3 bilhões de euros até 2030 para combater a poluição plástica nos oceanos, ampliando a Iniciativa Oceanos Limpos. A ONU alerta que os resíduos plásticos podem triplicar até 2040, impactando ecossistemas e saúde humana.

Calor intenso marca o início do terceiro veranico de 2025 e eleva temperaturas em várias regiões do Brasil
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Calor intenso marca o início do terceiro veranico de 2025 e eleva temperaturas em várias regiões do Brasil
News Card

O Brasil inicia o terceiro veranico de 2025, com calor intenso e temperaturas acima de 30 °C em cidades como São Paulo, aumentando o risco de incêndios e agravando a crise hídrica nas regiões Norte e Nordeste.

Parque Campana transforma antiga fazenda em espaço de arte e regeneração ambiental em Brotas
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Parque Campana transforma antiga fazenda em espaço de arte e regeneração ambiental em Brotas
News Card

Humberto Campana dá continuidade ao sonho do Parque Campana, um espaço de arte e ecologia em Brotas, promovendo educação ambiental e regeneração da natureza após a morte de seu irmão Fernando.

Brasil se destaca como líder em sustentabilidade a poucos meses da COP30 em Belém do Pará
Meio Ambiente
Clock Icon
4
min
Brasil se destaca como líder em sustentabilidade a poucos meses da COP30 em Belém do Pará
News Card

O Brasil se destaca como líder em sustentabilidade ao se preparar para a COP30, com foco em implementar compromissos climáticos e engajar diversos setores. Autoridades ressaltam a importância do financiamento climático e da Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos.

Lula critica negacionismo e unilateralismo em cúpula do Brics e defende ações para mudanças climáticas e saúde global
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
Lula critica negacionismo e unilateralismo em cúpula do Brics e defende ações para mudanças climáticas e saúde global
News Card

Durante a cúpula do Brics, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a urgência de triplicar energias renováveis e criticou o negacionismo e o unilateralismo que ameaçam o futuro. Ele defendeu a recuperação da OMS e a justiça climática, enfatizando a necessidade de investimentos em saúde global.

"Estudo propõe políticas para fortalecer defesas civis e enfrentar desastres climáticos no Brasil"
Meio Ambiente
Clock Icon
3
min
"Estudo propõe políticas para fortalecer defesas civis e enfrentar desastres climáticos no Brasil"
News Card

Estudo do Cemaden revela que 43% dos gestores de defesa civil se sentem despreparados para agir em desastres, propondo cinco frentes para fortalecer a gestão de riscos em áreas urbanas.