Impacto Social

Reparação histórica: filhos de portadores de hanseníase recebem reconhecimento e indenização do Estado brasileiro

O governo brasileiro reconheceu a violação de direitos humanos contra filhos de portadores de hanseníase, iniciando reparações financeiras e pedidos de desculpas. Até agora, 146 beneficiários foram identificados.

Atualizado em
July 13, 2025
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Neidirmar nasceu na ex-colônia Tavares de Macedo e foi separada dos pais: anos depois, teve a filha encaminhada para outra família — Foto: Ana Branco

Aos 68 anos, Neidirmar Costa da Silva, moradora da antiga colônia de portadores de hanseníase Tavares de Macedo, em Itaboraí, compartilha sua história de vida marcada por separações forçadas. Nascida em um dos pavilhões da colônia, ela foi retirada de sua mãe logo após o parto e levada a um educandário. Neidirmar também deu à luz sua filha, Rosana, que passou pela mesma experiência. Recentemente, o governo brasileiro reconheceu a violação de direitos sofrida por esses filhos, emitindo pedidos de desculpas e iniciando reparações financeiras.

O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) já beneficiou 146 filhos de doentes internados compulsoriamente, em um universo estimado de 25 mil. Infelizmente, cerca de 25% dessas crianças faleceram na infância devido a problemas de saúde, exacerbados pela separação dos pais. A reparação inclui uma indenização mensal de um salário mínimo e meio, já concedida aos ex-internos, como forma de reconhecer o sofrimento causado pelo isolamento.

Neidirmar expressa que o pedido de desculpas e a reparação são um reconhecimento tardio do sofrimento imposto a ela e a sua família. Ela relembra a dor de ser separada de seus pais, que também foram internados. Sua mãe, diagnosticada com hanseníase aos dez anos, e seu pai, aos dezoito, tiveram seus filhos levados para longe, com visitas anuais que não eram suficientes para criar vínculos. A dor da separação e a falta de contato marcaram sua infância.

Edmilson Picanço, de 53 anos, também viveu uma história semelhante. Retirado de seus pais após o nascimento, ele passou quase oito anos em um educandário, sem saber que convivia com seus irmãos. A rejeição do pai e a morte precoce da mãe dificultaram a construção de laços familiares. Edmilson, que coordena o Grupo de Trabalho dos Filhos Separados do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), relata a violência e as dificuldades enfrentadas nas instituições.

O processo de reparação inclui a preservação de documentos das 46 colônias criadas no Brasil, que foram encerradas no final da década de 1980. O MDHC planeja digitalizar arquivos de educandários e tombar cinco ex-colônias, como forma de resgatar a memória e as histórias de resistência dos que viveram nessas instituições. A Secretaria Estadual de Saúde também iniciou um projeto para preservar a memória do hospital em Tavares de Macedo, reunindo prontuários e documentos.

As histórias de Neidirmar e Edmilson revelam a necessidade de um olhar atento para as violações de direitos humanos e a importância de resgatar a memória desses indivíduos. A união da sociedade civil pode ser fundamental para apoiar iniciativas que promovam a reparação e a preservação da história, garantindo que experiências como essas não sejam esquecidas e que os direitos dos afetados sejam respeitados.

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